Projeto MoniTREEng instala armadilhas para recolher bolotas

O setor florestal português está no centro do desenvolvimento socioeconómico das zonas rurais nacionais, assim como vários setores industriais relacionados com a floresta, como a indústria da cortiça, do papel e da madeira.

De acordo com a Avaliação de Recursos Florestais Global (FAO, 2020), Portugal registou uma perda de mais de 85.000 hectares de floresta entre 1990 e 2020, o que equivale a uma redução de 2,5% na cobertura florestal.

Esta tendência deve-se em parte a atividades humanas, como incêndios florestais, sobrepastoreio e mudanças no uso da terra. Além disso, Portugal encontra-se entre os países europeus altamente vulneráveis à desertificação, especialmente nas zonas semiáridas das regiões sudeste e nordeste, onde a erosão é uma ameaça direta às atividades florestais e agrícolas.

O Atlas Mundial da Desertificação de 2018 indica que Portugal é um dos países europeus mais afetados pela desertificação, com cerca de 21% da área sob ameaça.

Essas tendências são alarmantes, considerando que as florestas, para além do seu valor cultural e socioeconómico, desempenham funções ecológicas importantes, como sequestro de carbono, conservação do solo, regulação da água e conservação da biodiversidade.

Além disso, a desertificação é o resultado evidente das alterações climáticas que contribuem também para a dispersão de espécies invasoras, pragas e doenças, que debilitam ainda mais a saúde das árvores.

O projeto MoniTREEng foi lançado com o objetivo de proteger primeiro as florestas nativas existentes e, em particular, dois habitats considerados prioritários pela União Europeia (UE): o montado (código 6310) caracterizado por sobreiros (nome científico: Quercus suber)e azinheiras (nome científico: Quercus ilex) e os carvalhais galaico-portugueses (código 9230), onde Quercus pyrenaica é a espécie dominante.

Um dos objetivos do projeto é avaliar a produção de bolota das árvores e a sua sobrevivência, uma vez que uma bolota proveniente de uma árvore vigorosa e saudável é suscetível de possuir um código genético que a torna resistente e resiliente a stresses abióticos (como condições climáticas, secura, temperaturas elevadas) e bióticos (como doenças e pragas). Assim, o primeiro passo é identificar quais as árvores que podem ser fonte de sementes e quais as áreas que apresentam germinação de plântulas bem-sucedida e estabelecimento precoce.

Seguindo um protocolo de campo partilhado pelo INIAV, em cada área de estudo foram identificados três transetos com 150 m de comprimento: um primeiro transeto – onde são identificados e marcados 15 árvores caracterizadas por um estado favorável de regeneração natural e aparência de vegetação saudável -, e um segundo transeto – onde são identificados e assinalados 15 árvores com fraca regeneração natural e aspecto saudável da vegetação. Finalmente, foi ainda traçado um transeto de controlo, ou seja, um transeto vazio para comparar os resultados com uma área onde não existem carvalhos.

Para aproveitar a humidade do solo do período de fevereiro-março, foram colocados postes para sustentar as armadilhas de bolota sob cada uma das árvores selecionadas nos transetos com “boas” e “más” árvores.

No final do ano, será adicionada às armadilhas uma rede para recolher as bolotas que caem durante o outono e inverno. Isso permitirá a qualificação e quantificação das bolotas e fornecerá informações valiosas sobre a produtividade das árvores para futuros programas de melhoramento, a fim de selecionar os espécimes certos para a propagação dessas árvores.

Para além disso, foram instaladas cinco estações meteorológicas em cada área de estudo para recolher dados meteorológicos, tais como radiação solar, temperatura do ar, precipitação, propagação do vento, direção do vento, humidade foliar e humidade relativa. Estas variáveis serão relacionadas com os resultados da análise das bolotas e avaliação da taxa de regeneração, bem como com a saúde geral da espécies de Quercus.

Referências:

FAO. 2020. Global Forest Resources Assessment 2020: Main report. Rome. https://doi.org/10.4060/ca9825en

European Commission, Joint Research Centre, Hill, J., Von Maltitz, G., Sommer, S., et al., World atlas of desertification : rethinking land degradation and sustainable land management, Hill, J. (editor), Von Maltitz, G. (editor), Sommer, S. (editor), Reynolds, J. (editor), Hutchinson, C. (editor), Cherlet, M. (editor), Publications Office, 2018, https://data.europa.eu/doi/10.2760/06292

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