Investigar a Traça-da-uva nas vinhas do Alentejo e da Península de Setúbal

A traça-da-uva (Lobesia botrana) é uma praga que afeta a rentabilidade económica das vinhas europeias. Apesar de ser uma espécie que ocorre naturalmente em todo o país, os estragos provocados são sentidos com maior incidência em áreas com relevo mais acidentado e sob condições de humidade favoráveis, dependendo, portanto, o seu impacto das condições meteorológicas de cada ano. Esta espécie produz anualmente três gerações, sendo que, a primeira é habitualmente pouco preocupante do ponto de vista dos impactos provocados na produção. Na segunda e terceira gerações as larvas provocam perfurações nos cachos que podem provocar estragos consideráveis, sendo que os prejuízos podem ser amplificados pela posterior colonização por fungos, como a podridão-cinzenta (Botritys cinerea).

Ao contrário da região do Douro onde as ferramentas de controle desta praga nem sempre têm revelado a eficácia desejada pelos vitivinicultores (particularmente devido à orografia do terreno), no Alentejo e na Península de Setúbal, a gestão da praga tem sido realizada, em geral, de uma forma satisfatória, nomeadamente através da utilização de feromonas de confusão sexual. Contudo, condições meteorológicas anuais particulares de de humidade e vento, podem despoletar localmente infestações de maior ou menor gravidade desta praga. A utilização de armadilhas com isco (uma feromona) é atualmente uma das ferramentas de monitorização mais frequentemente utilizadas para obter estimativas de risco de infestação. Esta técnica visa obter estimativas de curvas de voo para os machos. Contudo, os diversos estudos realizados até agora não conseguiram ainda relacionar a abundância dos machos de traça e a extensão dos estragos provocados.

Na sequência das limitações no conhecimento e gestão desta praga identificadas anteriormente, o InnovPlantProtect, em colaboração com a João Portugal Ramos Vinhos SA e a Associação de Viticultores do Concelho de Palmela, iniciou em 2022 um plano de monitorização para esta praga. Os trabalhos de campo contam igualmente com a participação de estudantes da Escola Superior Agrária de Elvas. Esta monitorização encontra-se atualmente a ser implementada em 9 locais no Alentejo e 13 na Península de Setúbal, onde foram instaladas armadilhas com feromona e e estão a ser realizadas contagens regulares dos estragos provocados pela praga.

Um dos principais objetivos deste plano é determinar a relação entre as curvas de voo observadas para os machos e a intensidade dos estragos provocados, bem como compreender os efeitos das variáveis meteorológicas nos padrões de ocorrência da espécie, no espaço e no tempo. Esta informação permitirá avaliar o risco de infestação pela praga, bem como criar modelos preditivos baseados em variáveis meteorológicas e de uso do solo que permitam a deteção precoce das infestações. Um segundo objetivo passará pela avaliação dos fatores que condicionam a eficácia da utilização da confusão sexual no controle da praga, particularmente os fatores meteorológicos e a orografia do terreno.

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